segunda-feira, 24 de março de 2014

Viagens no tempo

Uma das características mais atraentes de Bangkok é a sua capacidade de nos fazer viajar no tempo.

Muitas vezes nos encontramos em actividades que nos fazem recordar outros tempos, da nossa infância e adolescencia, ou ao explorarmos os mercados da cidade damos de caras com itens que nos fazem voltar atrás nas nossas memórias. Os nossos fins-de-semana são muitas vezes preenchidos com estes momentos, autênticos tesouros...

Desde que eu e a Rafaela começámos a namorar, que o rio Tejo faz parte da nossa história juntos, não fosse eu Scalabitano e ela Alfacinha. Muitas vezes fizemos a travessia do rio, só porque sim, do Cais Sodré para Cacilhas ou de Belém para a Trafaria. O Chaophraya em Bangkok deixa-nos reviver esses momentos, já que é ainda uma importante rota para nos movimentarmos pela cidade. E apesar de já termos visitado todas as áreas turísticas ao longo do rio, continuamos a ir passear de barco com os miúdos, sem nos cansarmos de ver o Wat Arun, a Igreja de Santa Cruz ou a Embaixada Portuguesa, chegar ao último cais para almoçar ou beber um refresco e fazer o caminho de volta com um sorriso de orelha a orelha.

De tempos a tempos também levamos a nossa filhota ao salão de jogos, mas obviamente que também nós nos divertimos imenso de cada vez que vamos lá! A grande diferença é que cada jogo fica-se pelos 10 a 20 Baht (25 a 50 cêntimos), o que nos leva a ficar horas a jogar air hockey, bowling, corridas de carros, tiro aos patos (com bolinhas de plástico, atenção!) e a apanhar guloseimas e pequenos brinquedos naquela máquina do gancho. Faz lembrar-me os tempos em que ia jogar às máquinas no campo da feira com o dinheiro da mesada, normalmente Street Fighter ou matraquilhos, no intervalo de almoço da escola. Já é tradição vir para casa carregado de bonecos, que a Rafaela também tem o seu vício nos arcades de Bangkok.


A livraria é um outro lugar de culto e habitual romaria, onde é possível encontrar uma variedade enorme de livros em inglês sobre os mais variados temas. A Asia Books do Central World tem muita coisa para os miúdos e um espaço grande para ler e brincar, mas a minha favorita é sem dúvida a Kinokuniya e é pela banda desenhada que lá passo tantas vezes. Já em criança tinha o hábito de passear com um livro de BD debaixo do braço, daqueles editados pela Abril, muitas vezes em Português do Brasil. Sempre tive pancada pelas histórias de super-heróis e adorava o Capitão América, o Flash e o Homem Aranha. Felizmente, esta livraria não me desilude quando busco compilações de clássicos da BD de super-heróis e trago sempre alguma coisa comigo dos meus favoritos. Mas o melhor de todo o sempre é o Super-Homem e quando "A Morte do Super-Homem" foi anunciada, eu não queria acreditar! Tal coisa só podia ser impossível de acontecer e a minha curiosidade sobre a história foi sempre crescendo. Infelizmente, tornava-se cada vez mais difícil ter acesso a tão épico acontecimento e foi-se desvanecendo a ideia de um dia poder saber o que se passou... até ontem! Mais de 20 anos passados vou saber como conseguiram matar o Super-Homem! Vou ter 12 anos outra vez e vai ser brutal...


Há uns meses a Rafaela tinha me falado que havia uma pequena loja em Bangkok que vendia posters de filmes. Na altura, não pensei muito no que poderia encontrar por lá e acabei por não dar muita importância (estúpido!). O que é certo é que os posters de filmes tailandeses dos 60s, 70s e 80s são autenticas obras de arte, com pinturas encomendadas a artistas da época, em que tentavam colocar várias cenas e/ou personagens dos filmes em cada poster, de maneira a contar um trecho da história naquela pintura, tudo com um aspecto muito technicolor, que lhe dá uma aparência única! O que eu não fazia ideia, é que esta loja também tinha posters de filmes americanos que foram marcos na minha adolescencia e que contam tanto sobre aquilo com que cresci e me tornou no que sou hoje, usando o mesmo estilo artístico aplicado para os cartazes de cinema tailandês. Ontem fui lá buscar esta pérola:


Sim, é um cartaz tremendo do "Apocalypse Now"! O filme que "O professor" nos tentou obrigar a ver há mais de 10 anos atrás, só para podermos desfrutar do seu novo sistema surround com um filme magnífico (obviamente que ele estava muito mais entusiasmado que qualquer um de nós). Esta loja tem de tudo o que vocês possam imaginar: clássicos de terror, Star Wars, Bruce Lee, Rocky, Rambo, Exterminador Implacável, Flash Gordon, eu sei lá... A preparar o post de hoje descobri que também tem o Bloodsport, lá vou eu ter de visitar o lugar novamente, trauteando "kumite, kumite,..." (Para os mais curiosos, eles também têm uma loja no ebay onde podem ver mais exemplos: http://stores.ebay.com/warehouseposters)
  
Talvez seja por estarmos longe do nosso país que sentimos esta necessidade de preencher o vazio com artigos e experiências que nos deixam mais confortáveis, que nos trazem boas memórias de coisas que gostávamos de fazer ou de ter feito. Faz nos sentir jovens de novo, esquecer e lembrar ao mesmo tempo, celebrar o passado e acima de tudo porque são relíquias que dão (ou darão) imenso gozo partilhar com os nossos filhos.

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