quarta-feira, 19 de março de 2014

Fotos que contam histórias: Sabores tailandeses

Como este blogue veio com mais de 2 anos de atraso, decidi criar uma rubrica em que busco fotografias tiradas pela Rafaela (é ela a fotógrafa de serviço!) e tento relembrar as circunstâncias em que elas foram tiradas e que histórias têm para contar.

As primeiras são referentes à gastronomia tailandesa, uma das grandes surpresas que viemos encontrar aqui.

A minha primeira experiência com a comida tailandesa chegou ao almoço do dia 27 de Julho de 2011. Tinha vindo sozinho durante uma semana para sondar o ambiente, antes de a família completa se aventurar a Bangkok. Cheguei no final do dia anterior, onde ao jantar optei por algo mais "europeu", mas no dia seguinte chegava a hora de experimentar comida tailandesa, com os meus colegas a convidarem-me para juntar-me a eles no restaurante no r/c do edifício onde trabalhamos. Em Portugal nunca tinha provado tal comida, nem sequer me dei ao trabalho de perguntar a amigos se já o tinham feito, portanto não tinha qualquer ideia do que iria encontrar, daí ter deixado os meus colegas escolher por mim: Pad Thai para refeição, acompanhado de água de coco.

Se o prato não me surpreendeu à vista, a água de coco foi de arregalar o olho! Um coco enorme, cheio até acima que dava para alimentar 6 pessoas, porque para além da água também se deve comer o interior... eu bebia, bebia e a água parecia crescer dentro do coco, por isso tive de o "empurrar" para os meus colegas ajudarem a beber. Quando me preparava para comer a primeira garfada do Pad Thai, um dos meus colegas diz-me que se comer assim, não tem sabor nenhum e que devia usar tempero para ficar mesmo bom! Ok, pensei eu, venha de lá o azeite, o sal ou a pimenta, mas o que me trouxeram foi isto:


Como passar vergonha é roubar e ser apanhado, perguntei logo o que era aquilo! Pois bem, açúcar, molho de peixe, vinagre (com malagueta) e malagueta desidratada... supimpa! Optei por provar sem nada, para ver o que poderia misturar depois, sendo que o açúcar estava completamente posto de parte desde o início. Bom, o Pad Thai já era doce por si só, e eu não costumava pôr picante, portanto sobrava o molho de peixe... má escolha. Os meus colegas entretanto despejavam abundantemente todos os temperos disponíveis e comiam como se não houvesse amanhã. Eu deixei quase tudo no prato e pensei para mim mesmo que iria passar muita fomeca na Tailândia.
Durante a semana, continuei a almoçar e jantar com os meu colegas sempre comida tailandesa e o meu sentimento em relação a esta gastronomia era cada vez mais negativo. Regressei a Portugal cheio de saudades da comida e só tinha estado uns míseros 6 dias fora. Só pensava que isto iria correr mesmo mal, caso não encontrasse outra comida ou os ingredientes comuns da dieta mediterranica para cozinhar em casa. Sempre achei que a Rafaela iria adorar visto que ela gostava de ir ao Chinês, enquanto eu detestava. Fazia sentido na altura, o que demonstra o quão afastado estava eu da realidade gastronómica tailandesa.

Houve então um momento de viragem, quando provei esta bela iguaria:


Galinha Frita com caju... Isto sim é um pitéu! É doce, é picante, é diferente, é colorido, é delicioso sem se parecer com nada que tivesse comido antes na vida. Rapidamente se tornou o prato favorito da Rafaela e um dos meus primeiros, e mudou completamente a minha forma de abordar a comida na Ásia. A partir daí comecei a experimentar tudo sem desdenhar e a apreciar os diferentes sabores, esquecendo-me do azeite, do tomate, do alho e da cebola e abraçando o açúcar, o leite de coco, o molho de peixe, os estranhos vegetais tailandeses, o amendoim e a malagueta! Tom Yum, Tom Ka, Masaman, Caril verde e vermelho, Satay, Somtam, arroz frito, caranguejo de casca mole (come-se tudo, até a casca), etc. Até hoje, só há uma comida tailandesa que não aprecio: Pad Thai...

Umas palavras em relação ao picante: eu praticamente não comia nada com picante em Portugal. Tirando um pouco de piri-piri no frango assado, um devaneio do João Dias nos pratos malucos dele ou o jindungo na cachupa da Dona Auta, não comia mais nada que tivesse malagueta. Na Tailândia temos de dar o braço a torcer porque quase tudo leva um pouco (ou muito) do pungente fruto. Mesmo quando pedimos sem picante, a comida vai trazer sempre alguma coisinha, e há muitos pratos que caso não tivessem malagueta, não seriam decerto tão apetecíveis. Custa um pouco a criar hábito (e é verdade que arde tanto a sair como ardeu a entrar), mas o sabor da malagueta é fundamental à cozinha tailandesa, e hoje como qualquer coisa que arda sem pensar duas vezes.

Uma das melhores coisas a apreciar na Tailândia são os sumos! Deliciosos e de todas as frutas e mais algumas, goiaba, maracujá, melancia, manga, fruit punch e a bela da soda com sumo de limão, sempre com orquídea na borda do copo e sem custar 3 euros cada. A cerveja Singha é boa, a Leo assim-assim e a Chang é tão mázinha que deve saber à urina do animal que lhe dá o nome.


As sobremesas também são bastante diferentes e talvez o que custa mais a engolir na comida tailandesa. São umas coisas gelatinosas, ou com bolas coloridas a boiar em leite de coco... não sou fã mesmo! Mas há sempre uma excepção à regra e no caso das sobremesas o "Mango sticky rice", tradução livre para manga com arroz doce, é uma maravilha e uma combinação soberba!

Cá por casa já tentámos cozinhar tailandês algumas vezes e também já começa a ser tradição preparar alguns pratos quando vamos a Portugal, uns com mais sucesso que outros. Agora só falta virem até cá provar o original e apreciar este estilo de cozinha tão variado e que me fez mudar de opinião sobre como apreciar comida!

PS: não é à toa que hoje em dia peso mais 6 quilos do que em 2011!

1 comentário:

  1. HMMMMM! Galinha frita com Cajus! ADOREI comê-la contigo, mas soube ainda melhor em Ayutthaya, onde me veio parar à frente estaladiça e igualmente deliciosa! Quando vierem cá a Portugal, gostava que me ensinassem a cozinhar isto! Possível?

    Abração Manteiga!

    P.S. Não queres tirar a opção "Prove que não é um robô"? É chato como a potassa!

    ResponderEliminar