sexta-feira, 11 de abril de 2014

O extremo Sul da Tailândia: uma questão séria para resolver

Enquanto o Mundo aguarda os próximos passos na resolução (ou escalada) do confronto político na Tailândia, há um violento conflito no país que teima em não ser divulgado na comunidade internacional, seja através dos media, esfera política ou ONGs: A insurgência separatista das províncias do extremo Sul.

No início desta semana ocorreram mais uma série de atentados bombistas que levaram à morte de 1 pessoa e mais de 30 feridos com alguma gravidade. Este foi apenas mais um de inúmeros incidentes, desde assassinatos, bombas colocadas em automóveis, emboscadas a colunas do exército, assaltos a armazéns da polícia ou cadeias, num conflito que já dura há 10 anos e ceifou cerca de 6000 vidas. Para terem ideia do que tal representa, a mui divulgada insurgência no Iraque levou à morte de quase 20000 pessoas de uma população de 34 milhões de habitantes, desde o final da guerra gerada pela invasão Americana. A população do extremo Sul da Tailândia não chega aos 2 milhões... o que me deixa revoltado perante a minha ignorância em relação ao que aqui se passa.

Enquanto vivia em Portugal desconhecia por completo a existência deste conflito, e os guias de viagem que compramos antes de vir para a Tailândia apenas diziam que não era boa ideia visitar o extremo Sul do país, sem se alargarem muito sobre as razões. Rapidamente, através da imprensa local, começa-se a entender a extrema violência que afecta esta região, com notícias de pessoas a morrer quase diariamente devido a esta guerra escondida. Os media tailandeses tendem a relatar os ataques que ocorrem regularmente mas amiúde se abstêm de divulgar as origens e razões pelas quais este confronto teima em não terminar, ou mesmo o que está a ser feito para sanar as diferenças existentes.

A Tailândia é um país que vive em comunhão com a religião budista, há uma ligação muito forte entre a família real e os ensinamentos de Buda e cerca de 95% da população pratica esta doutrina. A região afectada pelo conflito é composta por 4 províncias maioritariamente muçulmanas (Songkhla, Yala, Pattani e Narathiwat), que nos finais do século XVIII pertenciam ao Sultanato de Pattani, conquistado pelo reino do Sião (actualmente Tailândia). Como o início dos confrontos pode ser rastreado aos princípios do século, na ressaca do 11 de Setembro e atentados bombistas em Madrid e Londres, rapidamente se associou este feudo a uma disputa religiosa, sustentada na Al-Qaeda.




Mas a realidade demonstra uma liberdade religiosa na Tailândia onde as pessoas tendem a misturar rituais e prestar homenagem a divindades de diferentes religiões: Hinduísmo, Catolicismo, Tauismo e Islamismo convivem em harmonia e respeito. A génese deste conflito parece estar muito mais assente nas diferenças étnicas entre aquelas províncias e o resto do país, do que nas diferenças religiosas. A grande maioria dos habitantes destas províncias são de ascendência malaia e não têm o Tailandês como língua (e alfabeto) principal, no entanto toda a educação até ao 12º ano é dada em Tailandês exclusivamente, tal como todos os exames nacionais.

Esta situação gera índices de escolaridade baixa na região e abandono escolar precoce, que por sua vez tornam mais difícil a competição por boas posições no mercado de trabalho, e um consequente desenvolvimento económico mais lento do que nas restantes regiões do país. O fosso sócio-económico e a incapacidade de acompanhar o rápido crescimento da Tailândia, gera um sentimento de exclusão facilmente confundido com a maioria Budista que povoa o resto do país. A desconfiança nas instituições cresce e a vontade de construir o próprio caminho leva à tomada de medidas extremas, principalmente quando confrontados com a passividade demonstrada pelo poder central em resolver a situação.

Esta minha percepção pode estar completamente errada, mas parece-me sensata. Sinto que pouco conheço ainda sobre esta insurgência e custa-me a entender o seu propósito ou como poderá tudo terminar. Não há um grupo único que se assuma como responsável e que tenha reivindicações precisas com vista à conciliação. Ao invés, existem 7 ou 8 grupos armados que perpetram ataques e agem sob uma política de silêncio, não se dando a conhecer aos media nem através de movimentos político-partidários. A grande maioria dos ataques são a instituições representativas do poder central, tais como exército, polícia, escolas e hospitais. E há uma nítida dificuldade do governo Tailandês em identificar como agir e com quem negociar.

Infelizmente quem acaba atingido são na sua maioria soldados rasos que não querem estar ali, e muitos civis, budistas e muçulmanos, professores e alunos, de dia para dia...

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