No início desta semana ocorreram mais uma série de atentados bombistas que levaram à morte de 1 pessoa e mais de 30 feridos com alguma gravidade. Este foi apenas mais um de inúmeros incidentes, desde assassinatos, bombas colocadas em automóveis, emboscadas a colunas do exército, assaltos a armazéns da polícia ou cadeias, num conflito que já dura há 10 anos e ceifou cerca de 6000 vidas. Para terem ideia do que tal representa, a mui divulgada insurgência no Iraque levou à morte de quase 20000 pessoas de uma população de 34 milhões de habitantes, desde o final da guerra gerada pela invasão Americana. A população do extremo Sul da Tailândia não chega aos 2 milhões... o que me deixa revoltado perante a minha ignorância em relação ao que aqui se passa.
Enquanto vivia em Portugal desconhecia por completo a existência deste conflito, e os guias de viagem que compramos antes de vir para a Tailândia apenas diziam que não era boa ideia visitar o extremo Sul do país, sem se alargarem muito sobre as razões. Rapidamente, através da imprensa local, começa-se a entender a extrema violência que afecta esta região, com notícias de pessoas a morrer quase diariamente devido a esta guerra escondida. Os media tailandeses tendem a relatar os ataques que ocorrem regularmente mas amiúde se abstêm de divulgar as origens e razões pelas quais este confronto teima em não terminar, ou mesmo o que está a ser feito para sanar as diferenças existentes.
A Tailândia é um país que vive em comunhão com a religião budista, há uma ligação muito forte entre a família real e os ensinamentos de Buda e cerca de 95% da população pratica esta doutrina. A região afectada pelo conflito é composta por 4 províncias maioritariamente muçulmanas (Songkhla, Yala, Pattani e Narathiwat), que nos finais do século XVIII pertenciam ao Sultanato de Pattani, conquistado pelo reino do Sião (actualmente Tailândia). Como o início dos confrontos pode ser rastreado aos princípios do século, na ressaca do 11 de Setembro e atentados bombistas em Madrid e Londres, rapidamente se associou este feudo a uma disputa religiosa, sustentada na Al-Qaeda.
Mas a realidade demonstra uma liberdade religiosa na Tailândia onde as pessoas tendem a misturar rituais e prestar homenagem a divindades de diferentes religiões: Hinduísmo, Catolicismo, Tauismo e Islamismo convivem em harmonia e respeito. A génese deste conflito parece estar muito mais assente nas diferenças étnicas entre aquelas províncias e o resto do país, do que nas diferenças religiosas. A grande maioria dos habitantes destas províncias são de ascendência malaia e não têm o Tailandês como língua (e alfabeto) principal, no entanto toda a educação até ao 12º ano é dada em Tailandês exclusivamente, tal como todos os exames nacionais.
Esta situação gera índices de escolaridade baixa na região e abandono escolar precoce, que por sua vez tornam mais difícil a competição por boas posições no mercado de trabalho, e um consequente desenvolvimento económico mais lento do que nas restantes regiões do país. O fosso sócio-económico e a incapacidade de acompanhar o rápido crescimento da Tailândia, gera um sentimento de exclusão facilmente confundido com a maioria Budista que povoa o resto do país. A desconfiança nas instituições cresce e a vontade de construir o próprio caminho leva à tomada de medidas extremas, principalmente quando confrontados com a passividade demonstrada pelo poder central em resolver a situação.
Esta minha percepção pode estar completamente errada, mas parece-me sensata. Sinto que pouco conheço ainda sobre esta insurgência e custa-me a entender o seu propósito ou como poderá tudo terminar. Não há um grupo único que se assuma como responsável e que tenha reivindicações precisas com vista à conciliação. Ao invés, existem 7 ou 8 grupos armados que perpetram ataques e agem sob uma política de silêncio, não se dando a conhecer aos media nem através de movimentos político-partidários. A grande maioria dos ataques são a instituições representativas do poder central, tais como exército, polícia, escolas e hospitais. E há uma nítida dificuldade do governo Tailandês em identificar como agir e com quem negociar.
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