terça-feira, 4 de agosto de 2015

4 anos depois, do outro lado do Mundo...

Passaram-se 4 anos desde que chegámos a Bangkok e, por entre todas as viagens, alterações de planos, novas pessoas que chegam à nossa vida, mudanças de rumo e dores de crescimento, houve sempre algo que se manteve inalterável: nós e a nossa vontade de um dia regressar a Portugal.

Em 2010, não estava nos nossos planos emigrar, muito menos para a Tailândia. No início do ano tínhamos decidido comprar casa e a nossa filha tinha acabado de nascer, portanto a palavra estabilidade estava na ordem do dia. Preocupávamo-nos com o que tínhamos e como conseguiríamos mantê-lo da melhor maneira, enquanto aprendíamos a ser pais, apesar de pensarmos ser adolescentes até aos 40 (pelo menos).


Foi por razões profissionais que decidimos embarcar nesta aventura e o timing acabou por se revelar quase perfeito. Vínhamos só por 1 ano, o que dava para viajar pela Ásia e conhecer alguns sítios a que provavelmente nunca iríamos caso tivéssemos ficado "em casa". Mas o que esteve para ser uma ligação efémera, gradualmente se foi estendendo e fortificando ao longo dos meses.


Houve muitos momentos marcantes ao longo destes anos, que nos afectaram de sobremaneira:
- as cheias de 2011 quase acabaram com a nossa estadia na Tailândia que ainda mal tinha começado, mas eventualmente decidimos ficar. Mudámos de apartamento e metemos a Madalena na escola, o que nos retirou um pouco do isolamento em que estávamos nos nossos primeiros meses aqui;
- o Mundial de futsal de 2012 aproximou-nos da pequena comunidade portuguesa que por aqui reside e com quem fomos mantendo contacto. Se nas primeiras viagens que fazíamos a Portugal tentávamos trazer o mínimo, depressa começaram a vir os chouriços, queijo, vinho e bacalhau, porque há coisas de que não nos conseguimos separar durante tanto tempo;
- nasce o Xavier em 2013 e voltam as grandes decisões, porque o apartamento onde estamos é pequeno e o contrato de trabalho está quase a acabar. Ficamos mais 3 anos e mudamos para um apartamento maior, noutra parte da cidade a meio caminho entre a escola e o trabalho. Já não pensamos como quem está apenas de passagem, e arranjamos forma de alterar o quotidiano porque Bangkok e nós vamos estar juntos durante muito mais tempo. Ter um filho nascido na Tailândia agarra-nos a este lugar para sempre...;
- Grandes protestos, artérias bloqueadas, lei marcial e um golpe de Estado em 2014 que instaura uma ditadura militar. No dia do golpe vimos muitos vizinhos a "fugir" e como não sabíamos no que iria dar, pensamos bastante em voltar mais cedo "a casa". Mas a nossa casa também já é aqui e as raízes já cresceram o suficiente para nos prender a este chão. Vindos de famílias que viveram Abril como um marco de liberdade e que nos passaram os seus ideais durante toda a nossa vida, é difícil entender como se pode levar assim o dia-a-dia sem questionar o que nos rodeia. A nossa costela Tailandesa gostaria de ver algo mais a ser feito.


Decerto vamos sentir falta de muita coisa da Tailândia quando formos embora, mas ainda não sabemos ao certo o quê. Às vezes fazemos uns joguinhos de futurologia para tentar adivinhar o que será, talvez o 7/11 para comprar gelado às 10 da noite, ou as cores dos táxis, a fruta da rua, regatear? Não sei mesmo... Antes de virmos para cá, deram-me um saco cheio de souvenirs de Portugal e muitas vezes lembro-me do que lá vinha e que estes tempos nos privaram, como a música (não o Tony Carreira, mas por exemplo nunca vimos o Samuel Úria ao vivo). Ao voltarmos, damos valor a coisas simples que antes passavam despercebidas: cheira bem na rua, é agradável andar a pé, podemos conduzir à vontade, há luz até às tantas, o peso da roupa no corpo é tão confortável (especialmente um cobertor ou uma manta), visitas inesperadas a casa, miúdos a correr e a brincar na rua, café...


Sempre que voltamos a Portugal, e vamos 2 vezes por ano, esperamos que tudo esteja na mesma para não estranharmos, porque as mudanças vistas à distância parecem muito mais abruptas e complicadas de digerir. Mas o certo é que um chorrilho de acontecimentos foi passando e parece que estão todos a mudar (e ninguém nos consultou!)  enquanto nós ainda estamos agarrados a 2010.


Houve tantas outras coisas a acontecer durante estes anos, que é difícil discernir o que nos afectou realmente. Mas na prática, apesar de nos moldarmos ao que nos rodeia e alterarmos a nossa forma de agir e reagir, aquilo que nos mantém sãos é a nossa identidade e o facto de sermos os mesmos que há 4 anos partiram. Sinto que pouco ou nada mudámos durante estes anos, evoluímos decerto, mas de uma forma idêntica ao que nos aconteceria se tivéssemos ficado "em casa". A Tailândia, a Ásia, mostraram-nos muita coisa inesperada e rica mas o Pedro e a Rafaela são os mesmos de sempre, agarrados um ao outro para não cair.


Enfim, para dar a volta ao ditado, as merdas mudam mas as moscas são as mesmas.





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